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Síndromes frequentes na atualidade: Síndrome de Procusto (síndrome do: “eu quero que estejas bem, mas nunca melhor do que eu”)

É sabido que muitas coisas são justificadas no nosso imaginário e na nossa psicologia pela mitologia grega, romana e até nórdica.

Édipo e Electra (síndrome ou complexo de édipo ou Electra) justificam e condicionam-nos até aos dias de hoje.

Mas os deuses não justificam tudo, no entanto são imaginário e dão nome a muita coisa. Hoje vamos falar numa versão mais distinta do ditado popular: “a galinha da vizinha não pode ser melhor do que a minha”, que é como quem diz, a síndrome de Procusto.

Conheço muitas pessoas com esta síndrome. Na verdade, acho que os verdadeiros amigos se aferem por não padecerem desta síndrome. Por isso vamos ver em detalhe do que se trata:

A síndrome de Procusto dá nome ao fenómeno que acontece com as pessoas que invejam e desprezam alguém mais talentoso ou qualificado do que elas. Estas pessoas discriminam automaticamente estas pessoas, na cabeça delas e mesmo verbalizam que estas pessoas são dotadas de sorte ou que não tiveram as mesmas oportunidades que estas pessoas e até incomodam se puderem usando artifícios e mentiras.

As pessoas que se escondem atrás desta vitimização do: “não tive as mesmas oportunidades ou a mesma sorte”, não compreenderam ainda que a sorte se constrói e as oportunidades também, com estudo, com dedicação e com esforço contínuo. No entanto preferem sempre a síndrome de Procusto e queixam-se só por não evoluir e também não deixam os outros evoluir. São eternos frustrados, mas vestem a capa de pessoas sérias, batalhadoras, só que não têm sorte ou oportunidades iguais.

Neste momento deve estar a ler este artigo e a pensar num nome de um colega ou amigo para esta síndrome, ou até vários, no entanto, não estou a descrever uma caricatura, mas sim uma verdadeira síndrome social que inspirou vários livros e vários filmes.

Há quem lhe chame invejosos, mas é mais complexo que isso, estas pessoas são as antagonistas clássicas e como vestem máscaras de vítimas e pessoas boas, passam sempre por coitadinhas e atrevo-me a dizer que as pessoas acreditam nelas.

Algumas passagens de Procustes descritas em livros e dicionários de mitologia clássica:

“Se fores muito alto eu vou cortar os teus pés. Se provares ser melhor do que eu, então eu vou cortar a tua cabeça “. – Mitologia grega.

Não está descrita num DSM, ou em nenhum método de diagnóstico clínico, mas na gíria dos psicólogos, a síndrome de Procusto é descrita como o “comportamento dor de cotovelo”, ou seja, eliminar de forma subtil pessoas mais brilhantes e inteligentes, puramente porque não se suporta que brilhem mais ou sejam mais felizes.

Sobre o mito de Procusto

Infelizmente não é um mito muito conhecido. Aliás, poucos deuses, ninfas e titãs são verdadeiramente conhecidos e caímos sempre nos mesmos: Zeus, Afrodite, Hera e Dionísio. No entanto a mitologia é vasta e explica muita coisa.

Não sendo conhecido o mito, é um mito triste e terrível. De acordo com a mitologia grega, Procusto (que também é chamado de Procrustes, Damastes ou Polipémon) era um hospedeiro ou albergueiro que dirigia uma hospedaria/albergue e uma taberna nas colinas de Ática.

Ele providenciava hospedagem aos viajantes que lá passavam, no entanto, o telhado dele que dava descanso e paz aos viajantes, escondia um segredo mau.

Procusto quando os viajantes e forasteiros dormiam, amordaçava-os e amarrava-os. Se a vítima era alta e a cabeça ou os pés saíam da cama, Procusto cortava-os. Se a pessoa fosse mais baixa, ele partia os ossos para os estender e esticar e assim obter o tamanho “certo”. Nunca ninguém servia aos seus olhos e tinham de ficar como ele entendia.

E este albergueiro continuou estas práticas até que um homem especial visitou o seu albergue: Teseu.

Teseu foi o herói que derrotou o Minotauro da ilha de Creta e tornou-se o Rei de Atenas. Dizem que quando Teseu descobriu o que este sádico estava a fazer com os viajantes, decidiu virar o feitiço contra o feiticeiro. A expressão “está a fazer-te a cama” tinha antes Procusto na frase, porque era “cama de Procusto”, ou seja, está a fazer tudo para que te deites e te dês mal na vida.

Como é que as pessoas com a síndrome de Procusto se comportam?

Claro que esta alegoria e caricatura não se aplica em sentido literal aos nossos dias. Não vemos esta carnificina ser cometida. O que vemos é a agressividade oculta sobretudo na política, no desporto e nos negócios.

Por regra, as pessoas que têm as posições mais altas nas organizações são as pessoas mais capazes, empreendedoras e qualificadas. Assim, quando uma pessoa é brilhante, proactiva, criativa, as pessoas com a síndrome de Proscusto usa de hipocrisia e mentira para os neutralizar e colocar de parte, já que entende estas pessoas com uma ameaça ao seu brilho.

Assim, muitas técnicas são usadas. Vitimização é a primeira. “Aquela pessoa fez-me mal. Aquela pessoa é má e enganadora. Aquela pessoa não fez o que devia e por isso é a pior do mundo”.

Há características óbvias das pessoas que vivem com a síndrome de Procusto:

– Os outros têm sempre a culpa do insucesso delas: os pais, o namorado, os amigos, os professores, a escola, a sociedade. Estão sempre do lado do efeito e nunca da causa e por isso nunca resolvem a sua vida e continuam frustradas.

– São pessoas com uma autoconfiança muito baixa ou excecionalmente alta, no entanto em campos absurdos.

– Vivem numa constante frustração e encostam-se a pessoas mais “fracas” do que elas para as sustentarem ou para ajustarem essas pessoas ao que elas acham ser “certo” em padrões de beleza ou sociedade. No entanto, queixam-se continuamente.

– Por regra são pessoas muito sensíveis, mas quando veem que alguém está a fazer algo bom e a sobressair, assumem isso como uma ofensa.

– Por regra, tentam vender-nos a ideia de que não muito “cool”, empáticos e boas pessoas e que adoram trabalhar em equipa, no entanto este é um subterfúgio do ego, já que se adaptam à pessoa que querem manipular.

– Têm medo da mudança e por isso, mesmo que esteja bem e queira puxar esta pessoa para ser bem-sucedida consigo, ela vai sempre achar que você estará sempre acima dela, prefere não o fazer e vai optar por minar o território à sua volta.

– Fazem coisas irracionais: por exemplo, se for colega no trabalho e der uma boa ideia, vai encontrar toda a argumentação para deitar essa ideia abaixo, geralmente em inutilidade da ideia, para não brilhar. Se fizer alguma coisa mal numa relação com um colega, essa pessoa vai-lhe sempre dizer que é normal ter reagido assim, porque é humano, mas na verdade quer é que não peça perdão, não se retrate e fique mal visto/a perante as pessoas.

Uma pessoa com a síndrome de Procusto como não sabe como realizar os seus sonhos e esperanças e por isso tenta assassinar os sonhos e as esperanças das pessoas que invejam. São pessoas altamente manipuladoras.

Nenhuma pessoa com a síndrome de Procusto se dá conta que padece da síndrome. Nos piores casos da síndrome, estas pessoas vão usar de mentiras, de artifícios, forjar o que for preciso para arruinar outra pessoa. Vêm o foco de todo o mal nessa pessoa, ainda que seja um cenário da cabeça delas, e vão tentar abater.

Este “comportamento dor de cotovelo” ou síndrome de Procusto acontece muito e está documentado quando acontece entre irmãos e vizinhos e no local de trabalho.

Destaco o ano de 2020 pela multiplicação da síndrome de Procusto em todo o lado a que alcanço o olhar. Assim, o melhor que posso fazer é dizer-lhe:

Somos todos dignos de destaque. Temos todos os nossos talentos. Um talento de uma pessoa não invalida o de outra. Temos todos espaço neste mundo. Assim abra os olhos para os Procustos desta vida e não se deixe enganar por eles. Procure pessoas que lhe permitam ser livre, abrir as asas e voar por si. Brilhar por si também!

Autor

Viajou por muitos países, conheceu muitas pessoas e muitos lugares. Aprendeu com todas as pessoas que observou e com quem conversou. Trabalhou em Portugal, na Bélgica, nos EUA e em Angola. Hoje desenvolve o seu trabalho na área da gestão de pessoas (recursos humanos), formação, coaching e mentoring. E escrita, adora escrever. Assumiu diferentes funções e colaborou com empresas em diferentes estados de maturação, quer em ambiente nacional, quer internacional. Desempenhou funções relacionadas com: gestão do talento e tarefas inerentes; gestão de recursos humanos em sentido lato e formação e desenvolvimento. A nível académico, estudou direito na Universidade de Coimbra, mas foi em Psicologia e no Porto que encontrou a sua verdadeira vocação. É certificada em Coaching, PNL e estuda todos os dias mais um pouco, vê mais um pouco, ouve mais um pouco para poder ser mais cultivada. Hoje gere a UpTogether Consulting e trabalha com pessoas, para pessoas. Faz programas de shaping leaders e reshaping leaders e gosta muito do que faz. Costuma dizer às crianças que forma enquanto voluntária em educação para os direitos humanos: “quando mais soubermos, quanto mais conhecemos e sentimos, menos somos enganados”. Enfrenta cada dia com uma enorme alegria que é simples de ver e sentir!

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